Adivinha doutor quem tá de volta na praça? Planet Hemp! Ex-quadrilha da fumaça.

A VOLTA DEFINITIVA DO PLANET HEMP
“A apatia é grande/ E a crise é geral”, decreta “Crise geral”, faixa do terceiro álbum dos Ratos de Porão, de 1987. Vinte e oito anos depois, Marcelo D2 e BNegão se revezam para gritar os versos da música durante um ensaio do Planet Hemp. Incluído no repertório do grupo carioca, que se reuniu para shows em quatro cidades brasileiras neste fim de ano, o libelo punk se junta aos raps, hardcores e raggas dos maconheiros mais controversos dos anos 1990. Eles se apresentam na sexta-feira e no sábado na Fundição Progresso.

Em comum, todas as canções do repertório parecem manter a mesma força que tinham quando foram lançadas. As críticas à polícia e à política brasileira, que pontuam músicas como “Porcos fardados” e “Stab”, continuam tragicamente atuais. Desde a estreia da banda, com “Usuário”, em 1995, eles afirmam não ter visto progresso. BNegão tem uma explicação simples:

— As letras que foram escritas há mais de uma década estão valendo até hoje. Não é porque neguinho é profeta, é porque não mudou nada. Infelizmente.

D2, companheiro de rimas, concorda: — Na veia do Planet Hemp corre o sangue punk. Somos contra tudo e contra todos. Não acreditamos nesse Fla-Flu que tomou conta da política brasileira. Estamos aqui para dizer que existem caminhos diferentes.

PLANET HEMP from Rafael Kent on Vimeo.

NOVO GUITARRISTA
Os desafios que o país enfrenta, nas vielas dos morros cariocas ou nos corredores do Congresso, estimulam os veteranos a voltar à cena. Eles garantem que acabou o hiato: a “ex-quadrilha da fumaça” está definitivamente de volta na praça.

— Depois da turnê em 2012, a chama se acendeu de novo — diz D2.

Se não enxerga mudanças no panorama político, o vocalista de 48 anos passou por transformações na vida pessoal. Ele garante ter parado de beber para preservar a saúde. Afinal, zanzar pelo palco durante os shows não tem sido fácil. Mesmo empolgado com o retorno da banda, ele também olha com ressalvas para o legado do Planet.

— Estamos até falando em música nova. É difícil porque, hoje, aquelas letras me soam um pouco ingênuas. Continuo o mesmo moleque revoltado de 20 anos atrás, mas perdi a ingenuidade. Tanto eu quanto o Bernardo (BNegão) mudamos a nossa maneira de escrever. O que posso dizer é que não é mais uma reunião, é uma volta. Queremos fazer shows todos os anos.

A banda lança um DVD com o registro de turnê de 2013 em breve. Enquanto o GLOBO acompanhava o ensaio, no fim de novembro, Nobru Pederneiras tentava acompanhar os outros quatro músicos. O guitarrista assume o lugar antes ocupado por Rafael Crespo e Jackson.

A chegada de Nobru transforma a cozinha do Planet Hemp em um enclave do grupo Cabeça. Afinal, além do guitarrista, o baterista Pedrinho Garcia também fez parte da lendária banda de hardcore carioca. Eles se juntam a Formigão, baixista que fundou o Planet ao lado de D2, Skunk, Crespo e Bacalhau.


As chances de um retorno de Black Alien, responsável por versos celebrados em raps como “Queimando tudo”, são remotas. O convite, garantem BNegão e D2, segue de pé. Mas o MC de Niterói, que lançou neste ano “Babylon by Gus, vol. II — No princípio era o verbo”, precisa topar.

— Tem a possibilidade, mas é preciso de uma conjunção astral. Precisamos tocar em um local em que ele esteja perto, com datas disponíveis. Se for acontecer, não vamos nem anunciar. Se ele aparecer, vai ser demais — finaliza BNegão.


Foto: Mônica Imbuzeiro / Mônica Imbuzeiro

Fonte: Jornal O Globo


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