Resenha de Filme: A 5ª Onda


A 5ª Onda bebe muito na fonte dos recentes sucessos teens que reúnem um futuro pós-apocalíptico, jovens heróis e uma ameaça muito maior que os simples mortais. Indo na onda (perdoem-me o trocadilho) de Os Jogos Vorazes e afins, o filme ainda coloca no liquidificador uma série de filmes de catástrofe com invasão alienígena a la Independence Day, mas esse projeto não consegue alcançar nenhum sucesso em nenhuma de suas empreitadas.

A 5ª Onda acompanha a história de uma invasão que, por meio de cinco ataques diferentes, busca dizimar a raça humana do planeta. Essa catástrofe é narrada do ponto de vista de Cassie (Chloe Grace Moretz), uma adolescente que se vê obrigada a lutar com os invasores – estes chamados de ‘Os Outros’. Com essa premissa é inacreditável como a 5ª Onda consegue cair nos clichês mais óbvios tanto do cinema adolescente quanto da ficção científica.

O filme tem início mostrando como era a vida de Cassie antes da invasão, com uma narração em off da protagonista, que explica absolutamente tudo o que já está na tela, subestimando toda a capacidade de seu público. Assim, nesse primeiro momento a personagem é construída baseada no típico estereótipo da garota de classe média do subúrbio americano, uma garota que vive nas festas na casa de seus amigos, esperando pelo garoto do futebol americano puxar conversa, mas sem perder seu amor pela família. Uma personagem de tão perfeita que perde toda sua empatia.

E pensar que depois da invasão Cassie se tornaria uma protagonista mais interessante, nada disso acontece. A garota pega em armas e luta como uma guerreira da mesma maneira que era a garota pop na escola. E como A 5ª Onda tenta, da mesma maneira como Jogos Vorazes e Mad Max, criar uma personagem feminina forte, mas que cai nas armadilhas de conter um ou dois coadjuvantes masculinos que fazem absolutamente tudo para ela, parece que o filme julga que sua protagonista necessita de um apoio masculino, tendo até mesmo que ouvir que aquela invasão deixou-a muito durona (detalhe: nesse momento, ainda no meio do longa, ela já havia perdido mãe, pai e estava tentando resgatar o irmão; quem não ficaria durona(o) diante dessa situação?). Nessa luta pela sobrevivência, Cassie se demonstra tão perfeita como a menina do colégio, ainda mais com seus amigos másculos por perto, sendo praticamente imbatível; seu único defeito é dar uma espiadinha no banho do garoto que acompanha sua jornada. Uma cena que se torna vergonhosa de tão risível que é.

É interessante notar como A 5ª Onda tenta provar ser um filme para gente grande mesmo destinado ao público jovem, apostando em sequências recheadas de violências, alguns palavrões e insinuações sexuais. Mas um filme maduro vai muito além dessas superficiais características, e A 5ª Onda não consegue se aprofundar em nenhum de seus temas, seja a invasão, ou os alienígenas infiltrados no mundo humano – nada disso torna-se o conteúdo do filme. E talvez esse seja o mais fascinante da ficção científica, o modo de mostrar medos e fatos tão comuns da vida cotidiana através de uma metáfora que projeta o futuro e o fantástico. No entanto, para A 5ª Onda os tiros de sua perfeita protagonista e os efeitos especiais realizados no computador bastam.

Com isso, não é preciso dizer que a preocupação com o roteiro é mínima, tornando-se um longa incrivelmente previsível. Há teoricamente uma grande revelação que muda os lados do filme, mas que ela é tão superficial e os personagens descobrem tão facilmente esse grande enigma, que esse artifício é totalmente desastroso. No momento da grande revelação, uma personagem simplesmente diz que não é daquele jeito, mas sim de outro completamente diferente e pronto, tudo resolvido. Aliás, todos os problemas dos protagonistas são solucionados dessa maneira, uma explicação verbal para alguma coincidência ou algo do gênero. Os personagens não agem diante de suas mazelas, elas apenas são resolvidas.

A 5ª Onda é mais uma tentativa de emplacar uma franquia no cinema, mas o filme parece ser um projeto tão displicente, que dificilmente alcançará algum sucesso. O longa apenas subestima seu público jovem, acreditando que algumas cenas de ação são suficientes para uma boa ficção.

Por: Giovanni Rizzo via Observatório do Cinema


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