Crítica | Inferno


A parceria de longa data entre Ron Howard e Dan Brown deu origem a mais um filme. Apesar de ser visto como uma continuação de O Código Da Vinci e Anjos E Demônios, o longa conta com um elenco renovado, com Felicity Jones, Omar Sy, Irrfan Khan e Ben Foster, enquanto Tom Hanks reprisa o papel do professor Robert Langdon.

No novo filme, Langdon tem que evitar que um maníaco fascinado por O Inferno de Dante espalhe um vírus mortal pelo planeta. E se essa premissa básica revela que a trama de Inferno é bastante pretensiosa, também mostra que o longa distancia-se da realidade, não há um envolvimento direto entre os fatos que mostra e o cenário que sempre explorou. Pela primeira vez, um filme da franquia não se utiliza da realidade para fazer sua ficção, algo que embora seja bastante questionável era a grande força dos filmes. É bem verdade que o filme cita órgãos presentes na dinâmica mundial, como a OMS, porém isso mais situa a trama do que se utiliza de um imaginário em torno das conspirações. Assim como as locações nos grandes centros europeus, que aqui funcionam apenas como meros cenários, não havendo uma grande interação entre trama e aqueles monumentos históricos, como era fundamental em seus outros longas. Inferno deixa alguns pontos chaves de sua franquia e empalidece ainda mais tentando ser um filme de ação comum.

Inferno conta com os exatos mesmos elementos dos dois filmes anteriores. Temos o personagem que não parece ser o que é, pistas deixadas por um homem morto, utilização de uma figura ilustre renascentista como base da estética e da investigação em si e uma organização oculta perseguindo o protagonista. É muita falta de criatividade e ousadia, simplesmente repetir o que veio antes de forma tão descarada e faz toda a franquia soar como uma série procedural, com o clássico vilão da semana.

Dessa maneira, o longa parece apenas cumprir uma obrigação burocrática, como se essa sequência fosse uma mera obrigação contratual. Sente-se que todas escolhas tomam como base a facilidade, tomando apenas o seguro como rumo a ser seguido. Tanto na direção, roteiro e edição o que se vê é algo que costuma dar certo e ponto, sem nenhuma elaboração em torno da trama de Robert Langdon. Sendo assim, Inferno também não consegue sair do lugar comum, todas as resoluções fílmicas são óbvias, vistas em tantos outros filmes. Esse pragmatismo é visto também na construção do roteiro. David Koepp faz um trabalho que não se envergonha de utilizar uma série de flashbacks ou verbalizar todos os pontos que a trama não consegue esclarecer. O último terço de Inferno é uma explicação constante de pontas soltas deixadas por Koepp.

Quanto a trilha sonora, Hans Zimmer apresenta mais do mesmo e até chega a repetir alguns dos temas presentes nos filmes anteriores da franquia.

Seria manjado e até cruel dizer que o filme é um inferno. No entanto, a película de Ron Howard demonstra por completo o esgotamento de uma franquia que já vinha mostrando certo cansaço. Mesmo com a sobrevida ganhada com Anjos e Demônios, Inferno escancara que as aventuras de Robert Langdon podem fazer sucesso nas páginas de Dan Brown, mas nas telas de cinema costumam não funcionar.

Nota: 3,5

Inferno — EUA, 2016
Direção:
 Ron Howard
Roteiro: David Koepp (baseado no livro de Dan Brown)
Elenco: Ben Foster, Tom Hanks, Sidse Babett Knudsen, Felicity Jones, Irrfan Khan, Omar Sy, Ana Ularu
Duração: 121 min.


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