Lenine e Orquestra Unisinos encerram a Virada Sustentável de Porto Alegre com show gratuito no Parque da Redenção. (Foto: FloraPimentel - Divulgação/Carbono) |
A primeira edição da Virada Sustentável de Porto Alegre encerra-se neste domingo com show do cantor pernambucano Lenine acompanhado da Orquestra Unisinos, à partir das 11:30 da manhã, no Parque da Redenção. A apresentação contemplará várias fases da carreira de Lenine e terá no repertório, duas canções do seu disco mais recente: “Carbono”. O show tem entrada gratuita e o palco será montado à céu aberto.
A Virada começou na última quarta-feira, e trouxe à capital o debate da sustentabilidade com ações, seminários e atividades ecologicamente corretas. Inspirada na edição paulista, o evento teve shows gratuitos no largo Glênio Peres e a realização de uma série de iniciativas abertas ao público e com entrada franca, em vários pontos da cidade, com objetivo de conscientizar e mobilizar a população.
Na última semana, entrevistamos, por telefone, o músico Lenine, que faz da sustentabilidade sua pauta pessoal e profissional. Tanto em suas canções, quanto em suas ações, a ecologia está sempre presente. Confira:
POA Cultura: E aí Lenine, qual a expectativa para domingo?
Lenine: Ah, é sempre as melhores. E as melhores perspectivas também. Por que o exercício coletivo não é sempre que acontece, apesar de eu já ter tido outras experiências, com outras orquestras. E isso é muito bacana, como compositor, ter estes tipos de experiências orquestrais. Muitas destas canções foram feitas há muito tempo, outras já foram gravadas por outros intérpretes e já tiveram outros arranjos. E isso tudo é um motivo de muito orgulho para mim.
POA Cultura: Como foram os ensaios e a preparação dos arranjos com a Orquestra Unisinos?
Lenine: O ensaio será feito na véspera do show. O que acontece é o seguinte: venho trabalhando com orquestras há muito tempo e isso vai fazendo com que eu tenha um repertório com arranjos já prontos e que pode ser interpretado. E conforme foi aumentando minhas experiências e trabalhos com estas orquestras, fui aumentando também meu repertório já pronto. Isso facilita pois já possuo boa parte das minhas canções arranjadas para esta parte orquestral. E assim vou testando meu repertório a cada novo projeto. Desta vez, por exemplo, vou fazer com duas músicas do 'Carbono', meu trabalho mais recente: “Castanho” e “Simples Assim”.
POA Cultura: Tu já te apresentaste com Martin Fondse, em 2013 e com a Orquestra da Ulbra, em 2014... ambos no Araújo Vianna, em Porto Alegre. Obviamente são projetos distintos, mas o que mais te atrai ao se aliar a uma orquestra para apresentar teu repertório?
Lenine: Eu gosto é de compor. O que se antecede a tudo isso [discos, shows, turnês] é o compor. As composições são como filhos, que você veste de diferentes formas para irem a diferentes lugares. Esta roupagem, que é possível dar dentro do universo orquestral, sinfônico... cria um novo relevo para cada uma daquelas canções. E isso é o melhor da festa. Pois eu, como ‘pai’ destes meninos, fico muito orgulhoso de vê-los transitando independentemente do ambiente, com desenvoltura. E tem mais. Cada orquestra tem uma dinâmica, um relevo, uma assinatura. E isso gera uma expectativa bacana: um encontro, um ensaio e depois dividir isso. Ainda mais agora, no caso da Virada [Sustentável de Porto Alegre], que você estará dando aquilo de graça para a população. Principalmente, ainda, pelo fato de estar ligado à sustentabilidade, uma palavra com um sentido tão amplo.
POA Cultura: Além de cantor, compositor, instrumentista, compositor... todas atividades vinculadas com a tua carreira musical, tu também és autor, inclusive membro da Academia Pernambucana de Letras. Tem atuado no ramo editorial?
Lenine: Não. Meu interesse vernacular se dá apenas como compositor de canções. Eu sou um colecionador de palavras e só faço o que faço por causa da minha língua. O português tem no seu relevo uma grande ferramenta para se fazer canções. E é nesta área que atuo e me realizo.
POA Cultura: Tu vens à Porto Alegre neste final de semana para encerrar um evento sustentável. E ecologia e sustentabilidade sempre está na tua pauta. Acha que há engajamento ecológico por parte do meio artístico?
Lenine: Eu não me sinto muito confortável em ver nos outros. O que eu posso te dizer é como eu entendo o que faço. E qual a função que o que faço pode ter na vida. E isso é muito pertinente. As questões que eu, como cidadão, percebo e o que me incomoda, ou o que me comove, ou o que me move. Isso tudo, de alguma maneira, termina por ser a matéria das canções que eu faço. Portanto, tenho essa função de informar. Mas isso não é regra. É como eu me vejo fazendo o que faço.
POA Cultura: O "Carbono" tu apresentaste no Bar Opinião em julho do ano passado. Oito meses depois, a tour segue inalterada ou tu muda teu setlist de show para show?
Lenine: O "Carbono" possui 11 canções e o show da turnê do disco tem o dobro disso no setlist. Portanto, ele é o esqueleto do show. Mas eu me dou esta liberdade de ter alguns pontos que eu possa mudar ao sabor de cada dia, de cada lugar. A banda que me acompanha, toca comigo a muitos anos, então isso nos dá uma linguagem que possibilita se desistir, de uma maneira muito livre. Então os arranjos mudam bastante e são definidas muito pelo sabor do que está acontecendo no dia. E isto termina sendo muito divertido.
POA Cultura: Abril será um marco. Em menos de uma semana teremos dois ícones da música pernambucana em Porto Alegre: Lenine e Nação Zumbi. Mas o mercado musical pernambucano é muito maior do que vemos no Sul. A que tu atribui essa baixa inserção da música de Pernambuco aqui no Sul?
Lenine: Eu não percebo desta maneira. Cada dia fica mais difícil de você viajar, se deslocar fazendo o que a gente escolheu para fazer: shows. O Brasil é continental. Você imagina o que é equilibrar a balança de produzir alguma coisa, aonde quer que seja, dando esteio pra isso tudo. Ficou cada vez mais difícil de realizar. E essas distâncias são um grande contra que temos. Terminamos ficando à mercê de longas viagens e, isto, por si só, já complica tudo. Então há a necessidade de se construir uma rede e, quando você for fazer show em algum lugar, viabilizar uma turnê pelas cidades vizinhas ou próximas da região. Mas isso tudo, hoje em dia, anda mais difícil de se realizar.
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